ANTECEDENTES HISTÓRICOS

O Culto da Umbanda nasceu precisamente na noite de 16 de novembro de
1908, no distrito de Neves, em São Gonçalo, município da cidade de
Niterói. Presidente da República: Afonso Pena.

Mentores - africanos e indígenas - residentes no plano astral enviam o
Caboclo das Sete Encruzilhadas para fundar o Culto de Umbanda no plano
físico. A manifestação mediúnica foi através de um jovem de dezessete
anos que antes estivera paralítico por sete meses. Seu nome: Zélio
Fernandino de Morais, dedicado e ardoroso médium umbandista, cumpriu
por 66 anos sua excelsa missão, desencarnando em outubro de l975, com
a provecta idade de 83 anos.

Perguntado sobre o nome do culto, o Caboclo das Sete Encruzilhadas
pronunciou a palavra UMBANDA, dando,em seguida, seu significado:
“Manifestação do Espírito para a caridade.” Mais tarde, etnólogos
encontraram no idioma quimbundo a raiz da palavra e sua significação.
A palavra é originária do Bantu-Kimbundu (Angola) onde mbanda
significa “a arte de curar” e kimbanda: o curandeiro, invocador de
espíritos.

Setenta anos depois da existência, o culto da Umbanda passa ao status
de Religião. O médium e Babalorixá Omolubá (N. Nery Reis) recebe, em
15 de junho de 1978, mediunicamente, os SETE FUNDAMENTOS, em nível,
teológico no seu Templo em Inhaúma, bairro distante do Rio de Janeiro.
Em novembro de 1978, apresenta as bases da novel Religião no livro
Fundamentos de Umbanda – Revelacão Religiosa.

Coube ao mesmo Babalorixá, com a valiosa ajuda do amigo e colaborador
Israel Cisneiros ( jornalista, pintor, poliglota) autenticar a origem
do Culto e divulgar para todo o país a verdadeira procedência,
desfazendo, por completo, especulações fantasiosas em que escritores,
sem conhecimento de causa, afirmavam que o culto era procedente da
Lemúria , Atlândida, Egito, Índia etc. Prosseguindo em seu trabalho,
visitou centenas de Templos (Minas Gerais, Paraná, São Paulo, Rio de
Janeiro) e “normaliza em 7 obrigações ritualísticas a formação de um
sacerdote de Umbanda. Aboliu as improvisações, as distorções, as
“lavagens de cabeça” e infantilidades outras. Priorizou a importância
de o Sacerdote adquirir conhecimentos básicos das religiões
comparadas, da magia, da psicologia elementar, da ética e, sobretudo,
da extrema e inadiável necessidade existencial do conhecimento de si
mesmo”.

C O S M O G O N I A

No princípio era o Nada - O Nada potencial. Num processo divino, a
energia se transformou em partículas materiais, subatômicas que
passaram a cruzar o espaço em diversos sentidos para depois se
reunirem e se aglutinarem em um só e único átomo – o átomo primitivo
apontado pela ciência.

A formidável explosão desse átomo primitivo desencadeou o aparecimento
de sucessivas galáxias, verdadeiros impérios estelares, compostos de
bilhões e bilhões de estrelas, planetas, nebulosas e toda a massa
interestelar brilhante que compõe o grandioso cosmo, Criação
magnificente do nosso Pai OLORUN.

A ciência terrena já constatou e provou, de maneira irrefutável , que
o nosso planeta-escola, verdadeiro grãozinho de areia a viajar pelo
espaço infinito, existe, há aproximadamente, 4 bilhões e 500 milhões
de anos ... Adão e Eva viraram personagens de ontem ...

Havendo Criador , haverá, logicamente, Criatura . E criaturas humanas,
embrionárias, existem desde aquela desintegração no cenário sideral.

Através de ciclos, períodos, eras, manvântaras e pralaias, vêm
cavalgando esses viajores predestinados, em fantástica romaria, pelos
diversos planos, latentes na mônada , para assumir formas nos reinos
mineral, vegetal, animal e hominal. Indivíduos, enfim, detentores da
centelha sagrada, herdeiros de um passado remoto, obscuro e
transcendental, vamos conscientemente em direção a um futuro de
efetiva grandeza espiritual cuja meta é a aquisição de uma cidadania
na pátria angélica da Consciência Cósmica.

P E R Í O D O S

Os umbandistas consideram os anos de l908 a l978 como “período de
propagação” e, de l978 a 2049, como “período de afirmação
doutrinária” . No primeiro período aconteceu a explosão do culto,
chegando a 6 milhões de seguidores e simpatizantes. Após 1978, já no
segundo período, acontece o avanço das seitas pentecostais e também a
exigência de melhor preparo dos sacerdotes de Umbanda. A população de
seguidores diminue, melhora a qualidade. Até esse ano de 2004 é de
aproximadamente 2 milhões de fiéis.

RELIGIÃO SEM PRECONCEITOS

A religião de Umbanda é destituída de preconceitos. Na chamada “Linha
das Encarnações Humanas e Divinas” vamos encontrar avatares de outras
culturas e raças tais como : Laotsé, Buda , Jesus, Ramakrishna,
Mahavira, Ramana Maharish, Krishnamurti e outros.

O mesmo acontece com personalidades de países que compõem as
encarnações humanas que contribuiram em muito para o bem estar da
humanidade. Em sua maioria são pessoas de talento , energia,
perseverança, simples e despretenciosas. Vamos encontrá-las nos vários
seguimentos da sociedade - seja na ciência, seja na literatura, seja
na arte, seja na técnica e vários outras modalidades do labor humano.

São mais de 70 mil criaturas e outras mais virão em futuro somar-se a
essa legião de benfeitores, exemplo: Aristóteles (384-322 a.C. ) Bach,
Johann Sebastian (1585-1750); Bell, Alexander G.
(1847-1922);Beethoven, Ludwig van (1770-1827); Vital Brasil
(1865-1950); Miguel Ângelo (1475-1564); Oswaldo Cruz (1873-1917);
Curie, Marie Sklodowska (1867-1934); Chaplin, Charles Spencer
(l889-1977); Darwin, Charles ( 1809-1882); Einstein, Albert
(1879-1955); Edson, Thomas Alva (1847- l931); Francisco de Assis, São
(1182- 1226); Helen Keller (1890-1936); Mozart, Wolfgang Amadeus
(1756-1791); Sabin, Albert Bruce (1906-1978); Pasteur, Louis
(1822-1895); Rondon, Cândido Mariano (1865-1950); Shakespeare, William
(1564- 1616); Tolstoi, Leão Nikolaievitch (1828- 1910); Vila Lobos,
Heitor (1887-1959); Voltaire, François Marie Arquet (1694- 1778)
Leonardo Da Vinci (1452-1519); Socrates (470-399 a.C.); Niemeyer,
Oscar Niemeyer Soares Filho (1907-); e outros.

Cada fiel umbandista pode nomear a personalidade digna da sua
admiração e respeito. São tantos a escolher tais como os médiuns
brasileiros Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco. Ainda está viva
na memória de todos nós a atuação cristã de Madre Teresa de Calcutá.

Pode-se também inserir, automaticamente, todos os nomes que pertencem
ou venham a pertencer às

Academias de Letras de todos os países e assim, também, aos eminentes
ganhadores do prêmio Nobel criado pelo químico Alfred Nobel
(1833-1896) que, ao morrer, estabeleceu prêmios para obras
científicas, literárias e filantrópicas do mundo inteiro.

Não devemos esquecer, contudo, que se pode eleger o operário, o
lavrador, o professor, a mãe-de-família, o comerciário, o enfermeiro,
o gari e a criatura humilde, enfim, que seja trabalhadora, honesta,
cumpridora dos seus deveres, que vive o cotidiano com dedicação,
inspirando, no seu ambiente, harmonia, ordem, boa vontade e serena
dignidade. Importa, para merecer o crédito de “encarnação humana”, que
a própria criatura tenha consciência de si mesma no seu viver de
relação.

Dados obtidos diretamente da CASA BRANCA DE OMOLU

Celibato - O sacerdócio é exercido por homens e mulheres com idade
acima de 23 anos e podem constituir família.

Deus - Não é uma Entidade mas a Totalidade. Não é um Ser pessoal.
Imponderável, Absoluto. É a Energia primordial. Conhecida pelos
afrodescendentes pelos nomes de OLÓRUN ou de ZÂMBI. Interpenetra tudo
e todos. Símile aproximado: um diamante de 12 faces – doze orixás –
que se expressam no contexto planetário em subenergias, aspectos
essenciais, elementos, forças, movimentos etc. A religião de Umbanda é
monoteísta.

Doutrina - Baseada nas sentenças bíblicas enunciadas por Jesus e de
outras encarnações divinas.

Diabo - Não existe na Umbanda personificação de tal entidade .O Exu é
um auxiliar dos Guias (Caboclos, Pretosvelhos e Boiadeiros) no
propósito de combater os desvios e excessos do ser humano.

Divórcio - A Umbanda, diferentemente de outras religiões , foi a única
no país a solidarizar-se com o então deputado Nelson Carneiro no seu
extenuante trabalho, até a vitória final, ou seja, a dissolução legal
do casamento.

Imagens - Não são objetos de adoração . Estão nos altares como
referências. Pequenas esculturas de preto-velho, caboclo, boiadeiro,
sereias, crianças etc, encimados pela escultura do Mestre Jesus -
OXALÁ- Sempre de braços abertos.

Livro sagrado - Os umbandistas são respeitosos para com todos os
livros ditos sagrados de outras Religiões. Elegeram, contudo, o dia a
dia como páginas sagradas do Livro da Vida que orientam o seu
cotidiano. A reflexão e compreensão dos seus atos estúpidos ou
sensatos lhes servem como aprendizado na difícil arte de viver.

O Templo - Uma empresa sem fins lucrativos. Local de reuniões onde se
processam a magia, os cânticos, as danças e o mediunismo.

Liderança - Exclusiva dos Guias-chefes astrais que se incorporam nos
Babalorixás e Yalorixás.

Planejamento Familiar – Desde a década de 60 do século passado a
Umbanda pugna pela família planejada e responsável.

Sacerdócio – Imprescindível para a formação (Iniciação) de um
Sacerdote, homem ou mulher, desde que possuam a faculdade mediúnica e
sejam maiores de 23 anos. O Sacerdote não é movido por estímulos
mercenários. Vive com sobriedade. Nada lhe falta, tudo lhe é concedido
pela graça de seus protetores. Aceita o labor como missão.

Sacrifícios votivos - Na Umbanda não há sacrifícios de animais para
glorificar os Orixás ou devocionar almas desencarnadas. Ela segue
estritamente as recomendações do fundador do Culto: cânticos, danças,
flores, frutos, folhas, sementes etc.

BANHOS E DEFUMAÇÕES - A Umbanda segue práticas e preceitos de origem
africana como os banhos e as defumações com ervas frescas ou secas,
sempre colhidas nas lunações próprias, sem contar, naturalmente, com o
seu uso fitoterápico em larga escala.Na Umbanda, vamos encontrar os
milagrosos “banhos de descarrego”e de vitalização dirigidos
especificamente ao duploetérico do paciente. Defumações de
“descarrego”e de energização bastante usadas nas residências e
estabelecimentos comerciais.

O Sagrado - Para o umbandista, a palavra sagrado se aplica a qualquer
objeto que não tenha sido formulado pelo pensamento. Quando há
ausência de pensamento, o Sagrado se manifesta instantaneamente.
Ajoelham-se os fiéis da Umbanda, com devoção, perante os lagos, rios,
oceanos, tempestades, ventos, chuvas, cachoeiras, montanhas, estrelas,
planetas, enfim, pela imensidão infinita do sagrado universo de
OLORUN.

Dança - Expressa emoções, ameaças, afeto, alegrias, raiva, aprovação e
recusa. Desde os tempos remotos se dançava para os deuses oferendando
o próprio corpo em rodopios sacros. A Umbanda cultua a “magia do
ritmo”, através da dança no seu gestual mimético em devoção aos Orixás
e Almas. Ao mesmo tempo, ouvem-se as rezas cantadas, (são mais de
quatrocentas) acompanhadas dos atabaques, agogôs, cabaças, violas etc.
Os cânticos falam da vida e da morte, alegrias e vitórias. Orientam os
filhos de fé, advertem e aconselham. Homenageiam o sol, a lua, as
estrelas, os montes, as florestas, os rios, as cachoeiras e o mar. Até
mesmo, ensinam a viver. Tomemos, como exemplo, a reza dedicada ao
orixá Ogun, como expressão do próprio orixá:

Quando Ogun foi para a Guerra
Ele mandou orar, orar
Quando Ogun venceu a Guerra
Ele mandou orar, orar...
Orar, orar...
Orar, orar é Vencer!

Ecologia - Pela sua natureza ligada aos Orixás, a Umbanda é
considerada uma Religião Ecológica, tanto no que se refere aos seres
vivos no seu seio natural como na sua ambientação no físico ou na
moral.

VIDA INTERIOR

O crescimento interior do fiel umbandista baseia-se no seu intuito
diário, particular e pessoal de se aliar às Energias dos seus “pais de
cabeça”, ou seja, dos seus dois orixás (somos filhos de todos os
orixás com predominância de dois).

Se observarmos, como exemplo, os filhos do orixá Ogun, “Senhor da
Guerra e da Ordem”, verificamos que eles estão bem conscientes de que
a guerra a ser vencida é a guerra contra suas próprias inferioridades.
Uma guerra de muitas batalhas contra a própria inveja, ciúme, apego,
violência, mesquinhez etc. Também lutam para conseguir o
estabelecimento da Ordem no seu viver familiar, profissional, social,
luta sem quartel, sem descanso, contra os maus hábitos e costumes na
vida de relação com a natureza e seus semelhantes.

Outro exemplo para se notar são os filhos de Xangô. Eles sabem
certamente que, antes de rogar pela justiça a qualquer preço, devem,
primeiramente, ser justos, equânimes, ponderados, conciliadores etc.
Só assim conseguirão, com facilidade, as boas graças dos que os
cercam, além de atrair para si próprios essa energia magnânima que
dita justiça e equilíbrio.

O Orixá enseja um intenso trabalho esotérico de reconstrução da alma
do homem, normalmente condicionada, corrupta e viciosa. Ao mesmo
tempo, essa energia ímpar realça as qualidades natas, norteando o ser
humano para um viver inteligente e digno na sua comunidade ou fora
dela.

Nem Ogun nem Xangô nem os dez outros orixás que compõem o panteon da
Umbanda se limitam, apenas, aos seus “filhos de cabeça”. Os Orixás se
manifestam para todos os reinos da natureza e, naturalmente, para o
reino hominal. Os orixás estão interligados numa fusão espetacular de
átomos leves e pesados na natureza terrestre sem contar com sua Ação
multifária no Universo conhecido e desconhecido de OLORUN.

por Fernandes Portugal